Coluna de Sérgio da Costa Ramos no Jornal Diário Catarinense de 20/07/2007
Apesar de tudo
Celebrar a vida, embriagando-se num otimismo "sem razão", parece ser a única saída contra a insensatez institucional, que acorrenta o Brasil às suas mazelas, mesmo quando há motivos para festejar.Quando o Pan começava a dar alegrias ao brasileiro, uma tragédia devolveu o país ao duro chão da realidade. A incompetência, a desídia, a estupidez, o mau cheiro que emana da vida política não permitiriam que a nação reencontrasse o seu orgulho.Flagro amigos num bar, festejando as medalhas do Pan. Respeitam o luto dos que sofrem pela tragédia de São Paulo. Mas é ali, na camaradagem entre os que se querem, que o homem restaura os seus afetos, enquanto festeja a vida que resta em pequenos goles, em nome da licença social que nos permite manter o espírito levemente "alto".Não é à toa que destilados se chamem, em inglês, "spirits". Acerbo crítico da Lei Seca americana - que cevou Al Capone e inventou o "mercado paralelo" - o jornalista Henry Louis Mencken não era nenhum bêbado, mas gostava de fazer o elogio do álcool moderadamente ingerido:- O álcool, bebido com parcimônia, liberta as qualidades que nos enternecem e fazem com que as pessoas gostem de nós: a afabilidade, a tolerância, a generosidade, o humor, a simpatia. Um homem com dois ou três drinques no fígado jamais será um tirano.Este homem não estará apto para pilotar um avião, ou um automóvel - admite o jornalista. Nem estará apto a reger a Missa em Si Menor de Bach. "Mas será imensamente mais competente para dar uma festa, admirar uma mulher bonita ou... ouvir a Missa em Si Menor de Bach"...Dono da maior veia satírica da América, destilada em jornais como o Baltimore Sun, Mencken fazia dos políticos suas vítimas prediletas, a começar pelo presidente dos EUA naqueles críticos anos 1930:- Se Roosevelt achar que converter-se ao canibalismo poderá lhe render alguns votos, mandará engordar um missionário no quintal da Casa Branca.O robusto jornalista compunha suas frases sóbrio, mas adorava inebriar-se "um pouco", sem perder o juízo. Seu maior amigo, o crítico teatral George Jean Nathan, seguia-lhe a receita. E até inventou a frase mais espirituosa que se conhece sobre os benefícios de um pilequinho:- Bebo para tornar as outras pessoas mais interessantes.Durante a semana os dois amigos trabalhavam como mouros. Sexta à noite, pediam o primeiro bourbon. Num dia de excelente humor, Mencken construiu a sua pitoresca teoria do "homem levemente alto":- Este homem é melhor cidadão, marido, pai e amigo. Ele não declara guerras, não rouba nem oprime ninguém. Todas as grandes vilanias da História foram perpetradas por homens sóbrios - e, principalmente, por abstêmios. E todas as coisas boas, das nove sinfonias de Beethoven ao Martini seco, foram concebidas por homens que, na hora certa, trocavam a água da bica por algo mais colorido e com outros ingredientes que não apenas hidrogênio e oxigênio.Exemplos típicos. Hitler, o abstêmio. Churchill, o espirituoso.E se Mencken tem razão, o Mundo treme só em pensar que George Walker Bush era um bêbado anônimo até se transformar no abstêmio mais poderoso do planeta.
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/jornais/dc/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&edition=8129&template=&start=1§ion=Colunas+e+Charges&source=a1565551.xml&channel=22&id=8129&titanterior=&content=&menu=36&themeid=§ionid=&suppid=&fromdate=&todate=&modovisual==
Dois Corações
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Desterro, 20 de junho de 2024.
Abaixo algumas ideias avulsas, já que ainda não terminei de escrever.
Alguma coisa pode estar sem sentido ou fora...
Há 5 meses
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